23 de dezembro de 2008

one more time.

"Não é que vivo em eterna mutação, com novas adaptações a meu renovado viver e nunca chego ao fim de cada um dos modos de existir. Vivo de esboços não acabados e vacilantes. Mas equilibro-me como posso, entre mim e eu, entre mim e os homens, entre mim e o Deus."
Clarice Lispector, em Um sopro de vida.

o mundo está ao contrário e ninguém reparou.

quando o nós ainda existia, nós éramos tão diferentes, não éramos, beibe? você era tão mais você; junkie, bêbado, inconsequente, irresponsável, maluco, maluco beleza. e era esse você que eu idealizava e adorava e amava; e eu, era tão mais eu, segura, moderna, descolada, bêbada, maluca, maluca beleza. e nós juntos éramos ainda melhores que nós.
hoje tá tudo tão estranho. eu sinto como se eu fosse mais o antigo você do que eu mesma, e do que você mesmo, agora. um reflexo de você, uma sobra de você, uma cópia mal-feita de você, que ninguém quis comprar e acabou esquecida numa prateleira vazia.
eu me comporto que nem o antigo você; canto, danço, falo e fumo que nem o antigo você; tenho os trejeitos e manias do antigo você, faço as mesmas merdas, saio com as mesmas pessoas e vou aos mesmos lugares que o antigo você; cultivo as mesmas inimizades que ele.
Camões já dizia: transforma-se o amador na cousa amada, por virtude do muito imaginar; não tenho, logo, mais que desejar, pois em mim tenho a parte desejada.
isso é amor? ou só loucura mesmo? querer tanto, precisar tanto de uma pessoa, a ponto de se transformar nela quando não se pode tê-la. tornar-se indivíduos. um só. afinal, sendo você, eu não corro o risco de te perder jamais.
mas perco coisa muito pior; eu perco a mim mesma.
e aí me dou conta que a troca não foi lá bom negócio.
porque parece que a única pessoa que gostava do antigo você era mesmo a antiga eu.
e agora hein? fudeu gael.

22 de dezembro de 2008

mesmo sendo, agora, uma sobrinha.


E assim consigo dormir mais um dia, passar mais um dia, viver mais algumas horas, sem ligar pra única pessoa que eu queria ligar. Consigo seguir em frente mais um dia sem ligar pra ele. Consigo distrair meus dedos, minha mente, meu peito, minha violência, meu buraco, minha vertigem, meu soco no estômago, meu desespero, meu automático, meu extinto contrário, minha curiosidade infantil mas sempre com resultados duros demais para uma criança, minha vontade de enfiar o dedo na tomada só pra sentir a descarga mortal que tanto parece com impulso de vida. Consigo distrair os batimentos cardíacos que sinto em lugares do meu corpo que ainda queriam mais um toque dele. E partes da minha pele que saem buscando porque ainda não receberam a informação do fim, o sangue ainda não levou a má notícia para meu corpo todo. E consigo distrair minhas roupas, que querem se mostrar, cada dia uma diferente, para ele. Só para ele. E distrair meus ouvidos loucos pela sua voz. E distrair meus pés loucos pra encaixar atrás da sua batata da perna. E distrair minha língua, querendo decodificar e marcar cada centímetro das suas estranhezas. E distrair a crença cansada, a saudade renegada. Distrair essa sobrinha de você que continua enorme, mesmo sendo, agora, uma sobrinha. A conta vem cara, os amigos são muitos, as risadas invadem, o sofrimento dissipa. Eu sigo. Eu sigo sem ligar. A mão captura rápido o celular, eu começo a colocar o número dele. Mas passa. Ligo pra outro. E outro. E outro. E passo mais um dia sem fazer o que eu sei que não devo. Tudo o que ainda pensa e se preserva em mim grita e eu escuto. Sem cabimento, sem história, sem motivo, sem eco, sem colo, sem cumplicidade, sem acolhimento, sem nada. O que mais eu quero ouvir? O que falta para eu entender que acabou? Que dor falta sentir? Que parte do meu conformismo estava de férias essas semanas? O que falta viver em cemitérios abandonados? O que falta sentir em peitos esfaqueados? O que falta amarrar nesse emaranhado de fios dilacerados que eu virei? O que falta amar em olhares escondidos? O que falta acreditar quando a verdade é tão absurda que ocupa tudo? Não passo de uma força descontrolada que vai dar com a cara na parede branca, dura e incorruptível. Não ligue, Tati. Ligue para o mundo inteiro, encha o mundo inteiro, canse o mundo inteiro, ame o mundo inteiro. Vamos, mais um dia. Tente mais um pouco o resto. Daqui a pouco, esse resto vira rotina. Esse resto vira tudo. E ele será resto. Mais um pouco. Vamos, se esforce. Use essa violência para construir uma parede e não mais para sair esmurrando outras paredes por aí. Vamos, não ligue. Daqui a pouco isso se perde, como tudo. Como todas as pessoas fazem. As pessoas fazem isso, e seguem, equilibradas, frias, certas, velhas, assustadoras. Você pode ser como elas. Você é como elas. Não, você não é. Mas foda-se. Mesmo assim, não ligue. Nunca mais.

17 de dezembro de 2008

a quem eu possa confessar alguma coisa sobre eu.

estranho. mas eu, agora, aos 25 anos, me sinto mais perdida do que eu me sentia aos 17 anos. naquela época eu tinha minhas convicções, meus planos e ideais. tá, logo depois eles todos se mostraram tolos, enganosos ou profundos igual a um prato de sopa. mas pelo menos eu os tinha, e acreditava neles. eu sabia o que eu não queria e o que eu queria pra minha vida, embora o que eu quisesse era ser hippie e vender brincos em Ilha Grande.
hoje eu não acredito em mais nada, eu não sonho. eu simplesmente levo a vida. e deixo ela me levar. zeca pagodinho sucks.

8 de dezembro de 2008

sobre o tempo.


eu sei e voce sabe.
que ainda vai ser estranho, por uns tempos. que ainda vai doer. que quando eu te encontrar na rua, eu ainda vou ficar com cara de pateta sem saber se te cumprimento ou se te ignoro, por uns tempos. eu não quero te ignorar. sei lá porquê, não tenho mágoa nem raiva de você. eu sempre te disse isso lembra? que nada que você fizesse nunca ia me fazer ficar com raiva de você? aparentemente foi a única coisa que você levou a sério nessa história toda. eu não quero te ignorar. mas eu tenho medo de sorrir pra você e você sorrir pra mim daquele jeito que só você sorri e eu ver o chão desaparecer sob os meus pés de novo, e eu me deixar cair, cair, até me esborrachar de cara no chão de novo. é por isso que eu te evito, fikdik. se você sentir vontade de falar comigo algum dia, pode falar. eu nunca serei mal-educada com você. só to mantendo uma distância segura.
e quando, numa rodinha de amigos, alguém tocar no seu nome e contar alguma história engraçada/escrota/bizarra sobre você, eu vou continuar escutando tudo com aquele sentimento estranho que eu nunca sei explicar, por uns tempos. é meio nostalgia, meio tristeza, meio saudade, meio constrangimento, meio vontade.
e quando alguma amiga vier me contar dos seus casinhos e romances, e contar como é lindo e bom estar apaixonada, é o seu rosto que vai aparecer na minha cabeça, por uns tempos, e é com você que eu ainda vou me imaginar vivendo aquilo tudo que ela me conta com tanta empolgação. e ainda vou sentir um pouquinho de raiva e uma pitadinha de inveja dela e de voce, que estão vivendo isso que eu tanto queria.
e quando eu resolver espairecer, dando uma caminhada pela cidade, quem sabe; eu sei que ainda vou ver seu vulto nos lugares que a gente caminhou junto, por uns tempos.
e quando eu chegar em casa, depois de mais uma noitada, me divertindo horrores a noite toda, na hora de entrar no quarto e dormir sozinha e enfrentar todo aquele silencio e aquela frieza da madrugada, ainda é abraçada ao que você deixou pra trás lá em casa que eu vou conseguir dormir, por uns tempos.

mas como eu já disse, é só por uns tempos. alguma hora vai passar. já ta passando, sabe? é estranho que mesmo eu sabendo de tudo isso que eu escrevi aqui, e tendo presenciado tudo o que eu presenciei, eu não consegui chorar. não derramei uma lágrima por você, nem sei se eu posso dizer que, realmente, sofri. eu não fiz nada. não reagi. e isso é bom, mas me assusta um pouco. parece que eu simplesmente não sinto mais nada.

por isso, venho por meio desta te pedir um grande favor. devolve esse coração que ta aí com você?
ele é meu, só meu, e você, aparentemente não soube cuidar muito bem dele. eu sei, corações são coisinhas complicadas e frágeis de se cuidar e você, nunca foi lá um exemplo de responsabilidade. eu sempre soube disso, e mesmo assim, fui idiota a ponto de entregar o meu pra você cuidar.
mea culpa, eu assumo. então, por favor, só dá cá ele de volta pra mim, que eu vou cuidar dele,sozinha. all by myself. e vou consertar o estrago que você fez, pra que ele possa voltar a bater. e pra que eu possa, de novo, me sentir VIVA.
tempo, tempo, mano velho, falta um tanto ainda eu sei, pra você correr macio...

6 de dezembro de 2008

adik.

acontece assim quando voce começa a deixar de gostar de alguém:
todas aquelas manias, os tiques nervosos, os gestos, os maneirismos verborrágicos, as expressões faciais; aquilo tudo que voce conhecia tão bem, que podia adivinhar o que ele estava pensando por um simples levantar ou abaixar de sobrancelhas; tudo aquilo que fez voce gostar tanto dele, e que fazia voce pensar em como ele era único, e especial, e essencial e insubstituível na sua vida;

tudo isso torna-se extremamente irritante e parece completamente artificial.
reflitãm.

4 de dezembro de 2008

senhoras e senhores, trago boas novas.

eu sempre me perguntei qual seria a minha reação se, um dia, eu te visse com outra pessoa.
olhando pra outra pessoa do jeito que voce olhava pra mim. rindo como voce ria comigo. beijando com a paixão que voce ME beijava.
hoje eu sei que eu sou uma boba por pensar nessas coisas. muito pior é te ver fazendo tudo diferente.
olhando pra ela de um jeito que voce nunca olhou pra mim. falando sério, ao pé do ouvido. beijando com carinho.
mas tudo bem. eu tive a resposta que eu queria. eu já sei qual é a minha reação ao te ver assim:

seguir em frente.
denotativa e conotativamente.

that's all folks.
cansei de chorar seu luto. e cansei de rir meu riso e derramar meu pranto ao seu pesar ou seu contentamento.
nem eu tô me aguentando mais. I'm [really] gonna left behind.



1 de dezembro de 2008


pensamento roubado do dia:
o nosso amor a gente inventa pra se distrair
e quando acaba a gente pensa
que ele nunca existiu.

AIAI...será que tds minhas almas gêmeas vieram viadas ou canalhas [ou ambas] nessa vida, MELDELS?